- Resumo
- Introdução
- Pessoas com Deficiência no Brasil e a Representatividade Midiática
- A Inserção de Jornalistas com Deficiência nas Redações
- Jornalismo Acessível e Formação Acadêmica
- Desafios na Produção e Consumo de Conteúdos Jornalísticos
- Potencial do Jornalismo Digital para a Inclusão
- Experiências Pessoais e Produção de Conteúdo Inclusivo
- Conclusão
Resumo #
Este artigo analisa a representatividade de pessoas com deficiência no jornalismo brasileiro, com foco na inclusão de jornalistas com deficiência e na produção de conteúdos acessíveis. A partir de estudos recentes, pesquisas acadêmicas e iniciativas práticas, discutem-se os desafios estruturais, os avanços e as perspectivas para um jornalismo mais plural e democrático. O texto destaca a importância da formação acadêmica, da acessibilidade tecnológica e da valorização da experiência pessoal para consolidar o jornalismo inclusivo no Brasil.
Introdução #
A representatividade das pessoas com deficiência no jornalismo brasileiro é uma questão emergente, que reflete as desigualdades estruturais presentes no mercado de trabalho e na produção midiática. Apesar de serem uma parcela significativa da população, pessoas com deficiência enfrentam barreiras para acessar e atuar no jornalismo, além de serem pouco representadas nas narrativas jornalísticas.
O jornalismo inclusivo surge com o papel crítico e estruturante do ecossistema midiático contemporâneo, cuja finalidade ultrapassa a difusão de fatos ao se engajar na promoção da equidade epistêmica. Trata-se de um instrumento de mediação social e reequilíbrio simbólico, operando com intencionalidade ética na correção de assimetrias históricas de representação. Em vez de apenas refletir a realidade, o jornalismo inclusivo a reconstrói por meio de discursos que desafiam normatividades e reconhecem as múltiplas identidades que compõem o tecido social. Este artigo visa discutir o panorama atual do jornalismo inclusivo no Brasil, destacando dados, pesquisas e iniciativas que apontam caminhos para a inclusão efetiva.
Pessoas com Deficiência no Brasil e a Representatividade Midiática #
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pessoas com algum tipo de deficiência representam 8,9% da população brasileira – o que representa cerca de 18,6 milhões de habitantes (PNAD,2022). No entanto, pesquisas indicam que sua presença na mídia e na publicidade é inferior a 2%, com uma tendência preocupante de redução em campanhas publicitárias recentes. Essa invisibilidade compromete o reconhecimento social e o exercício pleno da cidadania desse grupo.
A Inserção de Jornalistas com Deficiência nas Redações #
Estudos recentes indicam que a presença de jornalistas com deficiência nas redações brasileiras é ainda incipiente, configurando-se como a primeira etapa para a consolidação do jornalismo inclusivo[1]. Pesquisa apresentada no 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (2020) revelou que, embora haja avanços pontuais, a inclusão profissional desses jornalistas é limitada por preconceitos e pela falta de políticas institucionais específicas. A análise de conteúdo de portais de sindicatos de jornalistas mostrou que a pauta da inclusão das pessoas com deficiência ainda é pouco explorada, e a presença desses profissionais é rara, o que compromete a pluralidade das narrativas e a visibilidade das questões relacionadas à deficiência.
Jornalismo Acessível e Formação Acadêmica #
A formação de futuros jornalistas preparados para lidar com a temática da deficiência é outro aspecto crucial para o avanço do jornalismo inclusivo. A oferta da disciplina optativa de Jornalismo Acessível na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), iniciada em 2022, exemplifica uma iniciativa pioneira que visa formar profissionais capazes de produzir conteúdos que respeitem as diferenças e combatam preconceitos enraizados na sociedade. Essa disciplina cumpre o que prevê a Lei Brasileira de Inclusão, promovendo um novo olhar sobre as pessoas com deficiência, que valoriza suas singularidades e amplia sua visibilidade na mídia[2].
Desafios na Produção e Consumo de Conteúdos Jornalísticos #
A representatividade das pessoas com deficiência no telejornalismo e no jornalismo digital ainda é bastante limitada. Pesquisas apontam que a ausência de recursos de acessibilidade, como audiodescrição, legendas e navegação adaptada, exclui grande parte desse público do consumo pleno das narrativas jornalísticas. Além disso, o desconhecimento sobre como abordar fontes e personagens com deficiência reforça estereótipos e limita a qualidade das reportagens. A jornalista Kelly Scoralick destaca que a universidade e as redações não preparam adequadamente os profissionais para o contato e a abordagem dessas fontes, o que contribui para a manutenção de uma comunicação excludente[3].
Potencial do Jornalismo Digital para a Inclusão #
O meio digital apresenta potencialidades significativas para promover a inclusão e a acessibilidade no jornalismo. O site Jornalista Inclusivo, por exemplo, utiliza recursos multimidiáticos e linguagens acessíveis para democratizar o acesso à informação e dar voz a pessoas com deficiência. A análise desse portal revela que o jornalismo digital pode ser um espaço de inovação, onde a convergência tecnológica permite a produção de conteúdos plurais e acessíveis, ampliando a participação social e profissional desse grupo[4].
Experiências Pessoais e Produção de Conteúdo Inclusivo #
A produção de conteúdo jornalístico a partir da vivência pessoal de jornalistas com deficiência também contribui para a representatividade e o combate à exclusão. Um estudo de caso sobre a produção de conteúdo no Instagram por um jornalista cadeirante evidenciou como o ciberjornalismo e as mídias sociais podem ser ferramentas eficazes para dar visibilidade às questões do cotidiano das pessoas com deficiência, seus desafios, conquistas e entraves, a partir de uma perspectiva autêntica e engajada[5].
Conclusão #
O jornalismo inclusivo no Brasil ainda está em processo de construção, marcado por avanços importantes, como a inclusão de jornalistas com deficiência nas redações e a oferta de disciplinas acadêmicas específicas, mas também por desafios significativos relacionados a preconceitos, falta de acessibilidade e baixa representatividade. Para que o jornalismo cumpra seu papel democrático, é fundamental que as instituições jornalísticas adotem políticas estruturadas de inclusão, promovam a formação continuada sobre acessibilidade e ampliem a produção de conteúdos que valorizem a diversidade das experiências das pessoas com deficiência. Somente assim será possível garantir uma comunicação verdadeiramente plural e inclusiva, que fortaleça a cidadania de toda a sociedade brasileira.
Referências
- [1] INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Do jornalismo inclusivo à inclusão do jornalista com deficiência na imprensa brasileira. Resumo R15‑2786‑1. Anais do Congresso Intercom Nacional, 6–9 out. 2020. João Pessoa, PB. Disponível em: https://portalintercom.org.br/anais/nacional2020/resumos/R15-2786-1.pdf. Acesso em: 04 maio 2025.
- [2] SCORALICK, Kelly. Uma abordagem sobre o jornalismo acessível na UFRJ como prática de novos olhares para a pessoa com deficiência. Relato de Experiência. Práticas em Gestão Pública Universitária, v. 8, n. 2, 11 set. 2024. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/pgpu/article/view/65324. Acesso em: 04 maio 2025.
- [3] UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA. Ciclo de Estudos debate a inclusão das pessoas com deficiência nas narrativas audiovisuais. Juiz de Fora, 23 maio 2018. Disponível em: https://www2.ufjf.br/ppgcom/2018/05/23/ciclo-de-estudos-debate-a-inclusao-das-pessoas-com-deficiencia-nas-narrativas-audiovisuais/. Acesso em: 04 maio 2025.
- [4] JESUS, Maria Leandra Aroeira de; NADER, Elizabeth. Site Jornalista Inclusivo e os potenciais do jornalismo digital para promover a acessibilidade de pessoas com deficiência. Trabalho apresentado no 26º Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, Niterói, RJ, 1–3 jun. 2023. Disponível em: https://sistemas.intercom.org.br/pdf/submissao/regional/7/05042023185157645428fd18883.pdf. Acesso em: 04 maio 2025.
- [5] OLIVEIRA, João Paulo Brito. Deficiência física: meu lugar de fala como profissional da comunicação. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Jornalismo) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 13 dez. 2021. Disponível em: https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/bitstream/123456789/3365/1/TCC%20Jornalismo%20Jo%C3%A3o%20Paulo%20Brito.pdf. Acesso em: 04 maio 2025.